Victor Tavares
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Jornal Taquigráf.

VARIEDADES I

"Die Kunst so schnell zu schreiben als gesprochen wird ist der höchste Triumph der Schrift." (Karl Faulmann)
(The art of writing as quickly as one can speak is the greatest triumph of writing.)

(A arte de escrever tão rapidamente quanto se fala é o mais alto triunfo da escrita.)

  1. Para que taquigrafia?
  2. Até que ponto pode o texto literal dos discursos ser alterado para efeito de publicação? Em outras palavras, até que ponto um taquígrafo pode mudar a fala de um orador? Veja uma norma internacional sobre o assunto:
  3. Qual o mais justo: fazer a contagem por palavras ou por sílabas? Em alguns países, como o Brasil, a contagem para um ditado de velocidade taquigráfica é feita por palavras; em outros, a contagem é feita por sílabas. Veja interessante artigo do Prof. Frederico Burgos, "Entre sílabas e palavras", publicado em novembro de 1949, na REVISTA TAQUIGRÁFICA, nº 106.
  4. Em que pode a tecnologia ajudar a taquigrafia?
  5. Aperfeiçoamento do Taquígrafo: Tarefa Diária e Permanente. (Palestra proferida por ocasião do II Congresso Brasileiro de Taquígrafos, realizado no Rio de Janeiro, no período de 5 a 7 de outubro de 1988.)
  6. FATORES DE VELOCIDADE (Extraído do Livro “Teoria e Didática da Estenografia”, Professores Pedro da Silva Luz & Wanda Canes Avalli)
  7. Treinar muitas vezes o mesmo ditado é um mal ou um bem?
  8. A técnica do ensino da taquigrafia - Tese apresentada pelo Prof. Frederico Burgos ao Congresso Internacional de Taquigrafia - Londres - 1937.
  9. Informações e Recomendações que julgamos de muita valia para um ótimo desempenho profissional dos taquígrafos - Prof. Waldir Cury
  10. Velocidade Taquigráfica - Espaço x Tempo. Redução dos sinais (miniaturização)
  11. Estenografia - Trabalho Intelectual.
  12. São Cassiano de Ímola - Padroeiro dos Taquígrafos e dos Professores de Taquigrafia.
  13. "Estudo sobre a conquista da velocidade estenográfica. Roma 1959. - F. VIGNINI"
  14. O CÉREBRO TAQUIGRÁFICO - UM SUPERPROCESSADOR
  15. Taquigrafar com leveza.

1 .

A pergunta é freqüente. Por ser um sistema de escrita muito abreviado e muito rápido, é de grande utilidade para qualquer pessoa, quer na vida pessoal, quer no setor profissional, quer no setor escolar.

NA VIDA PESSOAL  

  • Para fazer anotações rápidas de lembretes, idéias...
  • Anotações dos pontos principais, numa aula, num curso, numa palestra, numa conferência...
  • Anotações de telefonemas...
  • Registro em diário...
  • Registro em agendas...
  • Anotações durante programas de rádio, televisão (informações importantes, idéias...)
  • Resumos de revistas ou livros...
  • Troca de correspondência confidencial (com outro taquígrafo)...
  • Sumários para estudo de matérias...
  • Rascunhos para relatórios, reportagens em jornais, revistas, livros...
  • Anotações em reuniões de associações, clubes, grêmios, reuniões de condomínio...
  • Anotações nas margens de folhetos, revistas, livros...
  • Anotações de assuntos confidenciais...etc, etc, etc...

NO SETOR PROFISSIONAL  

  • Anotações em conversas, em entrevistas, em reuniões...
  • Anotações em consultas...
  • Anotações durante conversas ao telefone...
  • Reunião de material e idéias, sumários, minutas, rascunhos para estudo das matérias...
  • Esboços, projetos para elementos (construtivos) de textos...
  • Anotação das informações de colaboradores...
  • Rascunhos para documentos...
  • Registro das perguntas e respostas em entrevistas (entrevistas de apresentação, entrevistas de vendas, etc)...
  • Registro do que está sendo dito, para uma tradução simultânea, palavra por palavra (muito útil para repórteres e jornalistas) ...
  • Anotações de assuntos confidenciais...etc, etc, etc...
  • Nas Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores, registro ao vivo de discursos e debates parlamentares, registro de comissões e depoimentos...Nos Tribunais, registros de discursos, debates, palestras, depoimentos,...
  • Anotações para Atas...

NO SETOR ESCOLAR  

  • Fazer anotações durante as aulas, cursos, palestras, conferências...
  • Anotar exemplos, palavras e regras do quadro-negro...
  • Anotar particularidades referentes ao dever de casa...
  • Preparar o próprio relatório, redação, composição, tese, monografia...
  • Preparação e resumo das aulas (no caso dos professores)...
  • Montar fichas de apontamentos (dicas) para exercícios orais, alocuções, apresentações em público...
  • Fazer anotações nas margens dos livros e revistas...
  • Fazer anotações como secretário ou moderador em discussões, em grêmios estudantis, em associações...
  • Fazer minutas (rascunhos) de trabalhos de grande envergadura...etc, etc, etc...

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     2. TRECHO EXTRAÍDO DA PUBLICAÇÃO “Structure and Methods of Working of Parliamentary Stenographic Services”, RELATÓRIO ELABORADO POR OCASIÃO DO 34° CONGRESSO INTERSTENO (CONGRESSO INTERNACIONAL DE TAQUIGRAFIA), REALIZADO NA ALEMANHA (EM MANNHEIM), EM 18 DE JULHO DE 1981.
(Págs. 14 e 15) – Até que ponto pode o texto literal dos discursos ser alterado para efeito de publicação?

No que se refere à alteração dos discursos de plenário e outras reuniões parlamentares, há regras básicas com que quase todos concordam, algumas escritas, mas a maior parte dessas regras não-escritas, conforme se deduz das respostas que recebemos a esta pergunta. Vamos nos abster de reproduzir as respostas uma por uma e vamos ao geral.
Que os taquígrafos têm o direito, senão o dever, de corrigir os discursos parlamentares, é uma velha tradição em todos os parlamentos. Na Inglaterra, por exemplo, desde 1909. Em toda parte, a correção para efeito da publicação é o principal critério da função dos taquígrafos parlamentares. E desta forma os taquígrafos agem no interesse dos oradores, principalmente para não permitir que uma reprodução literal do discurso falado cause espécie quando transposto para a escrita.
A extensão da correção vai depender do caráter da reunião. Em princípio, as reuniões de plenário são alteradas menos do que as das comissões. Mas neste particular há uma exceção no que se refere às Comissões de Inquérito, em que, em todos os parlamentos, é regra estabelecida proceder-se a uma transcrição fiel absoluta, porque nessas comissões será possível estabelecer o grau de credibilidade de uma testemunha, por exemplo, atentando-se para a maneira e as palavras que usou para fazer suas declarações.
A qualidade dos discursos também influencia na extensão das correções que o taquígrafo deverá fazer
Eis alguns princípios de transcrição, manifestados em quase todas as respostas que nos foram enviadas. Como regra básica, o primeiro princípio é que só o que precisa ser alterado será alterado (tanto quanto necessário, mas tão pouco quanto possível). Parece, por outro lado, que na Assembléia Nacional Francesa é feito o máximo de alterações possível. O serviço taquigráfico da Áustria, no entanto, prende-se ao princípio de que “tanto quanto possíveis, as palavras do orador devem ser transcritas palavra por palavra para expressar o que ele quis dizer”
As seguintes modificações são consideradas indispensáveis: erros gramaticais e sintáticos; erros de expressão; elucidações são permitidas se o orador não expressou claramente o que ele queria dizer; números e citações devem ser conferidos e, se necessário, corrigidos.
O sentido e o conteúdo de um discurso não podem ser alterados na revisão – um princípio que se aplica também na correção que o próprio orador venha a fazer posteriormente. Por outro lado, o discurso não pode ser resumido (não se pode fazer apenas um resumo do que o orador disse). Os discursos não podem ser “uniformizados” num “estilo parlamentar”, pois cada orador possui o seu próprio estilo e isso há que ser respeitado pelo taquígrafo. Uma transcrição palavra por palavra é requerida quando as palavras do orador (o modo pelo qual se expressou) ocasionaram medidas disciplinares por parte do Presidente ou possam levar a isso.
(Pág. 50) – A tarefa mais importante de um taquígrafo parlamentar é transpor para a linguagem escrita a linguagem falada. Além de uma excelente velocidade taquigráfica, é, portanto, essencial possuir , o taquígrafo, um grande conhecimento do idioma pátrio.

Veja também sobre o assunto, o que disse o prof. Adalberto Kaspary, em palestra, por ocasião do Congresso Internacional de Taquigrafia Parlamentar e Judiciária, realizado em Porto Alegre (de 9 a 11 de novembro de 2001): TRECHO DA PALESTRA

 

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3) ENTRE SÍLABAS E PALAVRAS
(Frederico Burgos)

     Quando se fala em taquigrafia, geralmente se admite que 100 ou 120 palavras por minuto podem ser facilmente taquigrafadas, quer se trate de palavras inglesas, quer de portuguesas, alemãs, etc. É que muita gente ignora variar a média silábica dos vocábulos de acordo com o idioma, e não observa que há palavras curtas, extensas e extensíssimas.
Assim, fazendo-se uma comparação entre palavras inglesas e portuguesas, verifica-se:
a) que 100 palavras inglesas têm, em média, 150 sílabas e 100 palavras portuguesas têm 220 sílabas;
b) que a média silábica das palavras inglesas é, aproximadamente, de duas (2) sílabas, ao passo que a dos vocábulos portugueses é de cerca de duas e meia (2,5).

Para elucidação do assunto, transcrevemos, a seguir, dois trechos iguais, de 100 palavras cada um, um deles em inglês e outro em português. Encontraremos, se os examinarmos, 173 sílabas no trecho em inglês e 246 sílabas no trecho em português. Vejamos:

"The word shorthand at once awakens in us the idea of dexterity in the writing, which lead us to conclude that shorthand cannot exist without skill. Thus logically arrive at the following results: shorthand written slowly should be considered, at best, as "shorthand drawing", certainly never "shorthand writing", as generally understood.
The art of drawing and that of shorthand are diametrically opposite. One who deaws represents calmness, slowness, minuteness; the shorthand writer is the symbol of quickness, exactness and keenness. This been so, the study of shorthand to be efficient, to become in fact interesting to learners, awakening in..."

"A palavra taquigrafia desperta-nos, de pronto, a idéia de destreza na escrita, o que nos leva a concluir que não pode existir taquigrafia sem destreza. Assim, chegaremos logicamente à seguinte conclusão: taquigrafia escrita vagarosamente deve ser considerada, quando muito, como "desenho taquigráfico" e nunca, de certo, como "escrita taquigráfica", como geralmente se admite. O desenho e a taquigrafia são artes diametralmente opostas. O desenhista representa a calma, a lentidão, a minúcia; o taquígrafo simboliza a rapidez, a precisão, a vivacidade. Assim sendo, o estudo da taquigrafia, para ser eficiente, para tornar-se, de fato, interessante aos estudantes, despertando-lhes...

Em virtude, pois, de serem as palavras inglesas mais curtas do que as portuguesas, é que os ingleses falam mais depressa do que os brasileiros.
A dificuldade encontrada pelo taquígrafo para grafar as palavras extensíssimas é a mesma que se apresenta a quem as pronuncia. Daí decorre não ser possível obter-se sempre a mesma velocidade taquigráfica independente da extensão dos vocábulos pronunciados. E a prova disso é que, se controlarmos a velocidade desenvolvida por um orador, observaremos que, no curso de sua oração, a velocidade oscila não somente em razão da maior ou menor fluência, mas também conforme a extensão das palavras proferidas. Como exemplo, citamos o seguinte fato: em 10 de fevereiro de 1935, tivemos oportunidade de controlar, durante 17 minutos, a velocidade desenvolvida pelo Dr. J. Oliveira Botelho, quando pronunciou, na Faculdade Livre de Medicina, em Belo Horizonte, uma conferência, taquigrafada pelo Dr. Wilson Batista e pela Dra. Stella de Mello Fleury. A velocidade desenvolvida pelo orador foi a seguinte: no 1º minutos, 103 palavras, no 2º, 107, no 3º, 125, no 4º, 117, no 5º, 115, no 6º, 111, no 7º, 115, no 8º, 120, no 9º, 99, no 10º, 128, no 11º, 114, no 12º, 104, no 13º, 115, no 14º, 107, no 15º, 120, no 16º, 110, no 17º, 105.
Pelo exposto, é evidente que, para termos uma idéia exata da velocidade taquigráfica desenvolvida por alguém, torna-se mister considerarmos a média silábica das palavras proferidas.
Na Europa, nas competições taquigráficas, contam-se as sílabas e não as palavras.

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4)Em que pode a tecnologia auxiliar a taquigrafia?


Usar outro meio que não seja taquigrafia para registro não é novidade. Há anos se faz isso em alguns parlamentos e tribunais. E nem precisa ser "altas tecnologias". Um simples k7 faz isso. A pergunta que se coloca é a seguinte: o que é melhor, o que é mais perfeito, o que é mais fidedigno? É claro que um taquígrafo ao vivo + gravação + tecnologias. A fórmula é simples, para quem entende do assunto. Ninguém melhor do que um taquígrafo ao vivo e munido de todas as tecnologias possíveis. Até porque o taquígrafo, pela própria característica do estudo taquigráfico, é pessoa altamente capacitada para distinguir sons, para interpretar sons, exatamente pelo fato de a taquigrafia ser uma escrita fonética. Um bom taquígrafo (o taquígrafo responsável, que treina velocidade taquigráfica diariamente) tem muito mais capacidade para funcionar numa casa legislativa ou num tribunal exatamente por isso: seu ouvido é mais treinado para o ofício, para distinguir sons, até quando o orador tem uma péssima dicção. Quando nem o gravador consegue "pegar" a dicção ruim dum orador, um taquígrafo experiente consegue interpretar, quer pelo sentido da frase, quer pela alta competência com que foi preparado (pela taquigrafia) para discernir sons e "ruídos de sons".

TAQUÍGRAFO E GRAVADOR SE COMPLETAM

No plano prático, gravador e taquígrafo se completam de modo muito eficiente e exato.
Hoje em dia é muito comum ouvir-se as seguintes perguntas: para que taquígrafo, se há o gravador? Não é mais prático gravar e tirar tudo da gravação?
Quando se trata de fidedignidade, de responsabilidade, a pergunta não deve ser "o que é mais prático", mas, sim, "o que é melhor", "o que é mais perfeito".
No que tange ao apanhamento dos discursos e dos debates parlamentares (e aqui ficam incluídas as CPIs, etc.), podemos aplicar várias FÓRMULAS diferentes para fixação do que foi dito.
Por razão de clareza, eu estou dividindo em FÓRMULAS as diversas maneiras de uso do gravador e do taquígrafo.

1ª FÓRMULA: Só gravação.
Deixa muito a desejar, principalmente quando a gravação está ruim ou o orador tem péssima dicção. O apanhador (não-taquígrafo) terá só uma fonte a que consultar: a fita magnética. E o pior: corre-se o risco da perda total do discurso caso haja uma falha mecânica e nada fique gravado.

2ª FÓRMULA: Só taquígrafo (Sem gravação):
Esta a fórmula usada desde o tempo dos romanos até o aparecimento do gravador. Tem a desvantagem de ser extremamente desgastante e gerar angústia e tensão, principalmente quando o taquígrafo tem de enfrentar oradores que falam rápido demais ou têm dicção ruim. Neste caso, o taquígrafo terá de redobrar o esforço de transcrição, de interpretação. Não raro será obrigado a fazer enxertos (no caso de trechos ou palavras que foram humanamente impossíveis de pegar ou de entender no ato do apanhamento taquigráfico).

3ª FÓRMULA: Gravação + taquígrafo
Já é bem melhor do que a fórmula anterior, na medida em que o taquígrafo, pela própria natureza, é um profissional altamente condicionado, especializado, adestrado na difícil arte da interpretação de sons. É, por conseguinte, muito mais fácil para um profissional deste porte entender uma gravação, mesmo com o som ruim e mesmo com oradores que tenham dicção ruim.

4ª FÓRMULA: Orador ao vivo + taquígrafo ao vivo + gravação
É - incontestavelmente - a fórmula que permite 100% de autenticidade, de fidedignidade, de fidelidade, de perfeição. Aqui o taquígrafo tem duas fontes a que recorrer, as notas taquigráficas e a gravação. Mesmo quando a gravação não tenha ficado muito boa, será muito mais fácil ao taquígrafo, que taquigrafou ao vivo, fazer a reconstituição do discurso, pois ao vivo ele pôde "sentir o orador", ele pôde acompanhar todos os acontecimentos no plenário. E vice-versa, qualquer coisa que o taquígrafo não tenha conseguido entender ao vivo, ele a entenderá na gravação.

5ª FÓRMULA: Orador ao vivo + taquígrafo ao vivo + gravação + computador
Aqui fecha-se o círculo rumo à perfeição total.
De modo que a Máquina não substitui o Homem: ELES SE COMPLETAM DE MODO EFICIENTE E EXATO. A tecnologia não veio para extinguir a Taquigrafia, mas veio dar-lhe uma melhor qualidade.

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7. PARA A AQUISIÇÃO DA VELOCIDADE TAQUIGRÁFICA:
TREINAR MUITAS VEZES O MESMO DITADO É UM MAL OU UM BEM?

Uma pergunta que freqüentemente é apresentada por quem treina velocidade taquigráfica é a seguinte:

Treinar o mesmo ditado muitas vezes não é perda de tempo, já que o taquígrafo praticamente “decora” o texto?

A resposta é a que segue:

Se fosse verdade que o taquígrafo “decorasse” o texto, no sentido de “aprender de cor, reter na memória” (incluindo-se aqui o “decorar” todos os movimentos e traçados taquigráficos referentes àquele texto – principalmente as palavras de traçado taquigráfico difícil), isto seria já uma vitória espetacular. Imaginem: repetir um ditado dez, vinte vezes e assimilar – de modo profundo – todos os traçados taquigráficos nele existentes! A conclusão mais óbvia seria, então: não seria perda de tempo treinar repetidas vezes o mesmo texto. Pelo contrário, o treinamento repetitivo de um mesmo ditado seria por demais aconselhável.

A verdade, porém, é que o aluno tem apenas a ilusão de que “decorou” o texto, pois se pegarmos este mesmo texto e o ditarmos em velocidade maior (por exemplo, em 80 ppm, para quem está treinando na velocidade de 60 ppm), a dificuldade de se pegar taquigraficamente este mesmo trecho “supostamente decorado” será grande – principalmente em se tratando de trecho com palavras de difícil traçado taquigráfico.

É preciso observar ainda que – ao contrário do que possa parecer – cada momento do apanhamento taquigráfico é uma experiência única, em que entra em ação um complicado mecanismo de “ouvir o som, codificá-lo em sinais taquigráficos (trabalho executado pelo cérebro) e depois enviar os sinais codificados, através do sistema nervoso, para o braço, para a mão, para o papel”. Todo esse processo – vale ressaltar – é feito em frações de segundos, frações essas que vão diminuindo à medida que aumenta a velocidade. Então, é fácil deduzir que, mesmo que o texto vernacular seja “decorado”, o taquigráfico não o será, pois sempre haverá o trabalho importante e complexo de elaboração dos sinais taquigráficos pelos neurônios cerebrais.

O que em verdade acontece – para concluirmos o raciocínio – é que treinar repetidas vezes o mesmo ditado, as mesmas frases e – principalmente – as mesmas palavras significa ir – a pouco e pouco – capacitando o cérebro (à força da repetição) a que faça a “operação de codificação” mais rapidamente, com maior desenvoltura, de modo mais instantâneo possível.

Só com esse treino repetitivo das palavras e do mesmo ditado é que se vai conseguindo paulatinamente eliminar a dúvida mental, a hesitação mental, o titubeio, a vacilação (principalmente no que se refere a palavras de difícil traçado taquigráfico), que é o principal fator de atraso e da conseqüente perda de palavras quando se taquigrafa.

Eliminar essa hesitação mental ao fazer o traçado taquigráfico e capacitar o cérebro a que trabalhe cada vez mais com maior agilidade, com maior desembaraço, com maior automatismo é, sem dúvida nenhuma, conseguido com a REPETIÇÃO. Já sabiam disto os latinos quando, há séculos, afirmavam: “Repetitio mater studiorum est” – A repetição é a mãe dos estudos.

A REPETIÇÃO é, por conseguinte, o mais seguro e eficiente método para a aquisição da velocidade taquigráfica.

De suma importância também é amadurecer em cada velocidade, antes de passar para a velocidade seguinte.

Quanto ao “método” – infelizmente bastante difundido por aí – de ficar pulando de ditado em ditado, sem um estudo demorado e aprofundado de cada ditado, que resultado teremos? Teremos:

DIFICULDADES INSUPERÁVEIS, NENHUMA SEGURANÇA, UM PROGRESSO DUVIDOSO, UMA VELOCIDADE MEDÍOCRE, NENHUM AMADURECIMENTO TAQUIGRÁFICO E UMA ENORME FRUSTRAÇÃO.

Prof. Waldir Cury

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   9. INFORMAÇÕES E RECOMENDAÇÕES QUE JULGAMOS DE MUITA VALIA PARA UM ÓTIMO DESEMPENHO PROFISSIONAL DOS TAQUÍGRAFOS

INSISTIREMOS:

- na elaboração completa das frases na hora da transcrição (sublinhamos a diferença da palavra falada e da palavra escrita).

Para maior entendimento: se o Deputado começar o discurso assim:

- Para dizer, Sr. Presidente...

o taquígrafo, quando for transcrever, fará os necessários acréscimos para que a frase fique completa. Ao taquígrafo compete escrever aquilo que o Deputado deveria ter dito mas não disse. No exemplo acima, assim poderia transcrever o taquígrafo: - Sr. Presidente, solicitei a palavra para dizer...

- no cuidado que o taquígrafo deve ter para não cometer “gafes”, entender e taquigrafar uma coisa que o Deputado não disse.

- na atenção que o taquígrafo deve dedicar ao orador e aos aparteantes (que mesmo que o aparteante não fale ao microfone - por absoluta impossibilidade de chegar até ele - o taquígrafo deve registrar a sua fala - pois todos os apartes são relevantes.

- no zelo que deverá ter o taquígrafo na hora da transcrição. Aqui, mais do que em qualquer lugar, a pressa é inimiga da perfeição.

- na importância de uma releitura antes de entregar o trabalho. Uma releitura atenta é o melhor antídoto contra “falhas” e “frases sem sentido”.

- na importância de um bom desempenho individual: dele vai depender o prestígio de todo o Corpo Taquigráfico.

- na obrigação “ex officio” de o taquígrafo, ao não entender alguma palavra, algum nome próprio, alguma data, algum número, o que quer que seja, dirigir-se ao orador e solicitar a informação devida: em hipótese nenhuma, quer por pressa, quer por impaciência, quer por comodismo, escrever “qualquer coisa”, ou dizer “eu entendi isso...vou escrever isso mesmo e pronto...”.

- na grande vantagem de o taquígrafo ter na gaveta da sua mesa um bom dicionário da língua portuguesa e alguns manuais de pontos gramaticais, que prontamente possam resolver dúvidas que acometem os taquígrafos a todo momento.

- na importância da consulta a taquígrafos mais experientes, ou aos revisores, em casos de dúvida - e, em casos especiais, a obrigatoriedade de consulta ao diretor da secção, casos tão especiais por vezes, que o próprio diretor tem de consultar o Presidente da Casa (como, por exemplo, sobre determinadas palavras, termos, expressões inconvenientes proferidas por um orador, etc...).

Acreditamos que as informações e recomendações acima mencionadas vão servir como últimas demãos do começo de um aperfeiçoamento que nunca deverá terminar, pois, no nosso entender, o aperfeiçoamento do taquígrafo parlamentar e judiciário é uma TAREFA DIÁRIA E PERMANENTE.

Prof. Waldir Cury

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   10.                                       VELOCIDADE TAQUIGRÁFICA
                                                              ESPAÇO x TEMPO

A velocidade taquigráfica tem muito a ver com o espaço e o tempo. Quanto menor for o tamanho do sinal, menor será o tempo necessário para grafá- lo (estamos falando aqui em segundos ou frações de segundos).
Da mesma forma, haverá economia de tempo quanto menor for o espaço entre um sinal e o outro .

EM TAQUIGRAFIA, ECONOMIA É SINÔNIMO DE MAIS VELOCIDADE.

Tomemos, para exemplificar, o sinal (correspondente ao som do “b”, no método Maron). Se fizermos um sinal grande, levaremos mais tempo do que se o grafarmos em tamanho bem menor. Isto é fácil de entender, pois “para se percorrer distância maior leva-se mais tempo do que para se percorrer uma distância menor. Acresce a isto que para distância maior haverá maior desgaste de energia e, conseqüentemente, maior cansaço.

Isso parece irrelevante quando falamos apenas de uma palavra, de um sinal taquigráfico. Mas torna-se sumamente relevante quando taquigrafamos, por exemplo, durante cinco minutos a uma velocidade de 120 palavras por minuto. São 600 palavras, 600 sinais taquigráficos.

O taquígrafo que não teve, desde o começo do seu aprendizado, um treinamento metódico e disciplinado no sentido da redução dos sinais (ECONOMIA), certamente fará sinais grandes e deturpados quando estiver taquigrafando em altas velocidades. Haverá, então, (nos cinco minutos de 120 p.p.m. de que falamos, por exemplo) muitos pedaços supérfluos de sinais taquigráficos, de sinais, de espaços e de tempos dispensáveis, não essenciais.

Quando se trata de altas velocidades taquigráficas, os segundos, os décimos de segundos, os centésimos de segundos e os milésimos de segundos contam e contam muito. Por isso:

O ESFORÇO NO SENTIDO DA REDUÇÃO DOS SINAIS (MINIATURIZAÇÃO) E DE NÃO DEIXAR ESPAÇO GRANDE ENTRE UM SINAL E OUTRO (COMPRESSÃO) TEM DE SER DIÁRIO E PERMANENTE.

Como professor de taquigrafia, sempre peço aos alunos que façam este trabalho de miniaturização e compressão. Em geral, que o façam com ditados em velocidades menores do que a que estão treinando. Se estiverem treinando ditados de 60 p.p.m., que façam o treino de miniaturização e compressão com ditados de 40 p.p.m., 45 p.p.m. Este trabalho de miniaturização e compressão dos sinais é o melhor antídoto contra o aumento e a deturpação dos sinais, que costumam advir na medida em que o aluno vai treinando velocidades maiores.

Prof. Waldir Cury

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11. ESTENOGRAFIA

TRABALHO INTELECTUAL

(Texto extraído da REVISTA TAQUIGRÁFICA - nº 106 - novembro de 1949.)

 

(JOS. SCHAERLAEKENS - Professor de Taquigrafia em Louvain; Delegado do “Institut Royal Sténographique”, da França, na mesma cidade. Autor de “Cours de Sténographie” e de “Handleiding Bij Het Aanleeren van Het Machineschrijven).

A prática da estenografia requer atenção permanente do profissional. Este
não age como mecânico, a registrar séries de sons ou palavras justapostas,
para reprodução posterior. O que ele anota são idéias expressas por sons e palavras e o que dele se espera é a reprodução fiel dessas idéias. Tal objetivo o estenógrafo não alcançará plenamente a não ser que, ao longo do apanhamento, esteja em condições de compreender o sentido do que estenografa e, quando da tradução, fixe particularmente sua atenção no sentido. Isto lhe permitirá produzir cópia exata do que foi dito (ou ditado).

Esta finalidade, que predomina no exercício da profissão, deve também ser conservada sempre presente durante o aprendizado, desde o começo. Tenho a impressão de que, no curso do ensino da teoria, este aspecto é algumas vezes esquecido ou relegado a segundo plano.

Sem dúvida, o reconhecimento profundo das regras do sistema estenográfico é a base da rapidez do apanhamento, mas, esforçando-se por incuti-lo, professor e alunos ficam propensos a se confundirem com esta teoria.

É que a formação do futuro estenógrafo se inicia, necessariamente, pela teoria.

A exposição de uma regra deve, sem dúvida, ser ilustrada com exemplos, para os quais, a rigor, palavras isoladas podem satisfazer, porque o fim imediato é sua compreensão e aplicação em casos determinados. Mas a isso não se limita a formação do estenógrafo. Uma vez adquiridos os elementos teóricos, cumpre empregá-los na prática. A estenografia em si não é o alvo de sua atividade. Ela deve transformar-se em instrumento que ele possa manejar para o fim que tem em vista, ou seja, o registro das idéias emitidas pelo orador, em seu desenvolvimento natural.

Nesse grau, cumpre ao estenógrafo compor seus sinais de maneira absolutamente automática, sem esforço intelectual especial. Ele precisa ter toda a sua atenção livre para seguir o fio do pensamento que ouve expor. Não lhe é permitido dividir o sentido entre a escrita estenográfica - trabalho mecânico e a compreensão das idéias - trabalho, antes de tudo, intelectual.

Se ele se prende à escrita, arrisca-se a “perder o fio” e não “compreender” o que se diz. Como taquígrafo iniciante, todo profissional terá notado, em maior ou menor escala, quão difícil se torna sua tarefa se, no decurso do aprendizado, não adquiriu mestria tal que evite absorver-se, de quando em quando, no traçado dos sinais. Sempre que isso acontece é provável a perda do sentido do texto a escrever. E qual o estenógrafo que não chegou a verificar, algumas vezes, que o apanhamento sobre assuntos com os quais é menos familiarizado obriga a maior esforço do que o de discursos atinentes a matéria relativa aos setores em que está habituado a trabalhar?

Estas considerações permitem concluir que, na primeira fase do ensino, não nos podemos restringir à teoria, à mecânica da estenografia, mas é mister, desde o início, ter em vista o objetivo final.

Um meio, entre outros, para atingirmos a esse desiderato, é o de colocar as palavras-modelos referentes a determinada lição em frases tão curtas quanto possível. Desta maneira, as palavras-modelos, apresentando-se em condições normais, combinam-se com outras, exprimindo idéias. Cumpre aprender, no começo, a recorrer sempre ao texto para traduzir exatamente o sinal estenográfico.

Outro fator a considerar é a necessidade de assegurar aos alunos a compreensão do significado das palavras empregadas como exemplos. Quando se procura encontrar casos de aplicação de regra estudada, chega-se naturalmente a palavras de uso não corrente, que ultrapassam os conhecimentos dos alunos. Incorporadas essas palavras em frases apropriadas, facilmente se determinará o significado. Em outros casos, simples explicação bastará para esclarecer aos alunos. Pode-se, também, indicar fontes de consulta, etc. Não há dúvida de que o professor prevenido encontrará o método adequado, porque sabe adaptar-se ao nível intelectual dos discípulos.

E não se creia que esta maneira de agir ocasiona perda de tempo durante o ensino. De um lado, cada uma dessas digressões aumenta a ilustração geral, tão necessária ao estenógrafo. De outro, constitui handicap, que talvez passe despercebido, mas é útil nos esforços empreendidos para a assimilação das regras do sistema.

É mister formar estenógrafos “pensantes”. Estas considerações ou...sugestões poderão, espero, contribuir para isso.

O que dissemos a propósito dos estenógrafos pode também, de certo modo, ser repetido em relação aos datilógrafos: cumpre formar datilógrafos “pensantes”. Muitos datilógrafos são “visuais”, quer dizer, vêem uma sucessão de letras (formando palavra) e, automaticamente, copiam essa seqüência, as palavras em série, sem que a significação da frase alcance seu entendimento. Ao contrário, o datilógrafo deve, no curso da transcrição, “ler” as palavras. É preciso, de qualquer maneira, “entender” as palavras, ser “auditivo”. Assim, o sentido da frase penetrará em si e ele perceberá toda omissão, toda construção defeituosa e ser-lhe-á possível corrigir as falhas.

Louvain (Bélgica), agosto de 1949.

TOPO


          12. São Cassiano de Ímola - Padroeiro dos Taquígrafos e dos Professores de Taquigrafia. Sua festa é no dia 13 de agosto.

   Trágica foi a paixão de São Cassiano de Ímola, patrono dos taquígrafos e dos professores de taquigrafia. Cassiano era professor de taquigrafia numa escola de Ímola (cidade naquele tempo chamada "Foro Cornelio", por ter sido fundada por Cornelio Silla). Cassiano era advogado de renome em Roma e foi batizado por São Ponciano mártir. Servia-se da taquigrafia para ensinar aos jovens os preceitos do culto cristão e escapar dessa forma dos perseguidores que o espionavam de toda parte. Mas Cassiano era um professor tão severo e exigente que acabava intimidando os jovens alunos e com isso criava inimizades. Durante a perseguição aos criatãos ordenada pelo Imperador Maximiano Hércules (286-307), Cassiano foi denunciado ao prefeito Tertúlio por um de seus alunos, Corvino. E o prefeito Tertúlio, engenhoso idealizador de torturas, ordenou que o professor fosse entregue à sanha e às represálias dos alunos. Este, então, começaram a bater nas costas de Cassiano com as tabuletas enceradas até quebrá-las e a ferir todo o seu corpo com os estilos, fazendo o mestre sangrar até a morte. E tudo isso para gáudio e recreação dos oficiais e soldados pagãos que a tudo assistiam. Apenas um de seus alunos, de nome Pancrazio (que depois, aos 14 anos, foi também martirizado), o aconselhava a colocar-se a salvo, mas inutilmente, porque Cassiano não quis fugir do martírio pela fé.

 TOPO


               13. "Estudo sobre a conquista da velocidade estenográfica. Roma 1959 - F VIGNINI".
Ensaio elaborado por F. Vignini (Studio sulla conquista della velocità stenografica. Roma 1959.). Aqui vão alguns trechos traduzidos relevantes:


CONCEITO DE VELOCIDADE GRÁFICA

"Em cinemática, chama-se velocidade a relação entre espaço e tempo. Na escrita, é preciso substituir o conceito de espaço, metricamente considerado, por aquele mais adequado de percurso gráfico, que leva em consideração a forma, o sentido, a pressão, a união, etc. O percurso gráfico compreende, seja a parte que gera um traço visível (percurso manifesto), seja aquela parte que não deixa traço visível (percurso aéreo). Existe um limite fisiológico na velocidade gráfica: a mão do homem não pode, numa determinada unidade de tempo, executar mais do que um certo número de percursos gráficos preestabelecidos, número que marca o limite não superável da velocidade gráfica, seja usando a escrita ordinária, seja usando a estenografia ou outro gênero de grafia.
A estenografia não é uma escritura mais veloz do que a ordinária. É, antes, geralmente mais lenta. Mas possui uma potencialidade representativa muito maior do que a escrita comum. A estenografia permite, com a mesma quantidade de movimentos, representar um número mais elevado de palavras. O termo estenografia é, portanto, mais exato do que o termo taquigrafia, tendo em vista que o segredo através do qual o estenógrafo consegue fixar a palavra velozmente pronunciada não reside numa maior velocidade da escrita mas na redução dos traçados."

FALTA DE AUTOMATISMO

"O automatismo da escrita ordinária é adquirido após dezenas de anos de contínuo exercício. Na estenografia, porém, terminado o estudo teórico, está-se apenas no início do treinamento necessário para a aquisição do automatismo dos estenogramas, treinamento que dura anos, não meses."

MAIOR NÚMERO DE SEPARAÇÕES
"Na escrita ordinária, contam-se, em um minuto, cerca de 40 separações (de palavra a palavra). Na taquigrafia, mesmo com uma velocidade mínima, as separações são, numericamente, o dobro. Numa velocidade média, cerca de 100 a mais (isto é, 130-140) e em velocidades altíssimas, cerca de 160-180."

DEFORMAÇÕES
"As deformações das letras ordinárias são tais, na velocidade, que não chegam a influenciar fortemente na exata releitura. Mas um mesmo grau de deformação na escrita estenográfica, tornaria quase ilegível a estenoescrita. O estenógrafo deve, portanto, mesmo na velocidade, manter dentro de certos limites as deformações, o que evidentemente o obriga a um esforço contínuo de controle das formas, fato que acarreta uma perda da velocidade."

ELIMINAÇÃO DOS OBSTÁCULOS
"É preciso, então, eliminar os obstáculos. E não existe, para tal fim, outro meio a não ser o exercício para ir superando as dificuldades até eliminá-las por completo. Exercício que não deve prescindir da exatidão no traçado dos sinais. Trata-se de um trabalho complexo que exige, qualquer que seja o sistema aplicado, o desenvolvimento da memória visual em completa consonância com o fenômeno auditivo, como entendido pelo Gregg ("Por ouvir não se entende somente o fato físico, mas, num sentido mais abrangente, a compreensão intelectual", 1930), o estado que permite atingir a ligeireza consciente da reação grafomotora."

"Meschini, citando Nataletti, respondia: "A mecânica gráfica tem uma importância menos que secundária frente ao problema psicológico. A mão está sempre pronta para executar todas as complicadas acrobacias que se lhe possa pedir. Mas desde que o cérebro esteja pronto para transformar a palavra em signo e quanto menor o tempo empregado nessa transformação, tanto mais rápida será a mão."

A HESITAÇÃO
Nas fases mencionadas anteriormente, o aluno encontra dificuldades por causa das hesitações, que consistem na falta de segurança sobre a forma teórica exata do signo (regra confusa ou esquecida, abreviatura ou não abreviatura, etc), ou mesmo em dificuldades físicas na execução gráfica, especialmente quando as formas se afastam muito daquelas cursivas a que nossa mão está habituada.

AS HESITAÇÕES MENTAIS PODEM DEPENDER DE TRÊS CAUSAS:
- representação mental imperfeita do estenograma (defeito de teoria);
-embaraço, indecisão na escolha, quando os estenogramas possíveis são mais de um (defeito de escolha);
- indecisão nas abreviações oratórias especiais (faço ou não faço esta abreviação oratória especial? Omito ou não omito esta palavra?)

AS HESITAÇÕES GRÁFICAS OU MECÂNICAS PODEM DEPENDER:

- da desobediência da mão (complexo grafomotor). O signo é apresentado claramente ao cérebro, mas o movimento transmitido à mão não é coordenado e conduz a um traçado confuso, errôneo ou muito deformado.
- da dificuldade de ordem puramente gráfico (sinais aos quais a mão não consegue adaptar-se mesmo depois de muito exercício, mudanças de direção muito bruscas, formas estranhas, traçados feitos para trás, calcamento dificultoso ou graficamente ilógico, mudanças contínuas de posições dos estenogramas, encontros gráficos, etc.).
Se, tomando o problema às avessas, podemos definir a velocidade estenográfica como a eliminação de todas as hesitações, os passos a seguir para conseguir velocidade são os seguintes:
1º - perfeito aprendizado da teoria;
2º - eliminação de todas as hesitações mentais mediante exercícios;
3º - obtenção do automatismo grafomotor e eliminação gradual de todas as hesitações mecânicas;
4º - treino profissional (oratório). Livre de toda preocupação mental e gráfica do conseguido automatismo total, o estenógrafo passa à fase superior, exercitando-se a registrar (taquigrafar) o pensamento. É a fase que eleva ao cume da arte o trabalho estenográfico, fase na qual o estenógrafo não considera mais o discurso como uma série de palavras, mas como uma série de pensamentos e de idéias dirigidas a um fim, fase em que o estenógrafo segue o orador, identificando-se com o trabalho mental do orador.

O AUTOMATISMO
Mas que coisa é, afinal, esse automatismo? No sentido biológico, é executar uma função sem aparente intervenção da vontade; psicologicamente, há automatismo quando uma ação é determinada e exercida com a mínima intervenção das faculdades conscientes ou, muitas vezes, sem aparente intervenção das mesmas.
Escreve Laura Ciulli-Paratore, na sua Pedagogia: "Na medida em que o movimento se repete, os órgãos se adaptam à função, o sentido de esforço desaparece, até que se chega a agir como nos movimentos reflexos. A repetição de um ato, ou seja, o exercício, determina uma atitude especial por meio da qual a um estímulo responde, de modo preciso e imediato, a reação relativa. Desta forma, o ato torna-se habitual, natural no sujeito que o exerce."
E prossegue o Autrice: "A aquisição de um hábito não só facilita as ações, mas serve também para permitir a multiplicidade de ocupações. No momento em que o ato se torna habitual, o trabalho é executado de modo automático. E então a consciência pode ficar ocupada em outra coisa."

A CONQUISTA DA VELOCIDADE ESTENOGRÁFICA
Em todas as artes, profissões, trabalho ou disciplina, a habilidade depende sempre da prática. Por prática entende-se aquela capacidade desenvolta, rica em perspicácia, de segredos, de pequenas malícias que se manifestam em rapidez e precisão, ou seja, num resultado bom obtido no mais breve tempo possível. A desenvoltura é obtida pela segurança e mais ainda do que segurança. Para conseguir a habilidade é necessário, repetimos, o exercício, aquele exercício de que fala a Ciulli-Paratore, que culmina num ato natural. Portanto, também na estenografia, a habilidade é conseguida por meio do exercício. Mas como exercitar-se? Os PROCEDIMENTOS podem ser divididos em duas classes: EMPÍRICOS E RACIONAIS.

PROCEDIMENTOS EMPÍRICOS

Fundam-se exclusivamente na prática. Didaticamente valem-se de ditados feitos por um professor, ou outra pessoa que dita, ou ainda mediante fitas k7, CDs ou outros meios. Os ditados são ministrados tão logo o aluno termine o estudo teórico. São ditados com velocidades progressivas. Os procedimentos empíricos evitam as repetições excessivas, condinam a tendência de uma automatização forçada. Os defensores do empirismo consideram ser necessário chegar à velocidade não por intermédio de repetições de trechos previamente preparados, mas com exercício de construções dos estenogramas: o aluno, dizem os defensores do empirismo, deve contrair o hábito de se confrontar com as dificuldades, de resolver cada dificuldade que se lhe apresenta, treinando o cérebro a executar as operações de análise e síntese com uma velocidade cada vez maior: memória, inteligência, lógica, juízo e todas as outras faculdades conexas com o trabalho estenográfico são assim exercitadas. Com o aumento da desenvoltura no confrontar e resolver as dificuldades dos ditados, o aluno consegue a velocidade: por um processo natural e em condições ambientais muito semelhantes àquelas que deverá confrontar na realidade.
É evidente que os procedimentos empíricos fundam-se sobre princípios psicológicos sãos, intelectuais e apoiados na realidade prática; mas os empiristas muito teimosos assemelham-se, quando exageram no seu tradicionalismo cego, àqueles bons camponeses que ainda não querem convencer-se, não obstante a evidência demonstrativa, das vantagens derivadas das cultivações racionais.

PROCEDIMENTOS RACIONAIS
Tais procedimentos, se bem considerados, não perseguem meta diferente, mas tendem, mais que outra coisa:
a) a pôr ordem e graduação rigorosa no treinamento;
b) a evitar todas as perdas de tempo, acelerando ao máximo o processo de conquista do automatismo;
c) a valer-se dos estudos sobre a freqüência das palavras de uma língua para dar ao aluno condições de se confrontar com a realidade.
Os racionalistas são geralmente contrários aos ditados, por razões que veremos mais adiante, e insistem muito sobre a correção teórica, não hesitando, algumas vezes, em vetar as traduções para evitar distorções mentais que fazem perder um tempo precioso, valendo-se, em vez disso, intensivamente, de cópias estenográficas, de exercícios de estenocaligrafia, de repetições de trechos antecipadamente traduzidos com o auxílio do professor ou de um gabarito.
Os procedimentos racionais são de se preferir aos empíricos.

VANTAGENS E DESVANTAGENS
Nas altas velocidades, como nas médias, é impossível pensar na construção dos sinais, e a segurança é tanto maior quanto mais abreviaturas e quanto mais sinais definitivos possamos usar. A mínima hesitação na escolha entre dois sinais igualmente possíveis é causa de uma formidável redução da velocidade. O mesmo Mario Boni, que não é um racionalista convicto, escreve: "É necessário conhecer os estenogramas, não as regras."
Mas, não existindo um fundamento "mecânico", não se poderia nem mesmo pretender, da parte do cérebro, o domínio, o controle, o uso hábil de uma capacidade...que não existe. Aqueles que negam o automatismo deveriam demonstrar que se pode estenografar numa velocidade notável "apenas se tenha terminado o estudo teórico"! Mas a coisa não é assim. É verdade, infelizmente, o contrário, quando acontecer, por exemplo, de preencher uma folha pensando em outra. Como poderia isto acontecer a não ser com a aquisição do "automatismo"?

A QUESTÃO CEREBRAL
. Os empiristas afirmam que é necessário habituar o cérebro ao trabalho intelectual de análise e síntese, de construção dos sinais, de execução gráfica desembaraçada, desenvolta, até que essa execução seja feita com rapidez. É preciso exigir do cérebro, dizem os empiristas, atenção sempre uniforme; desabituá-lo da fadiga intelectual não é vantajoso ao fim supremo da arte estenográfica. Habituando, ao contrário, o aluno a construir os sinais sob a pressão dos ditados obtem-se a grande vantagem de evitar, no futuro estenógrafo, todas as indecisões quando, na aplicação prática da arte, tiver que estenografar palavras novas e difíceis: em tais casos, continuam dizendo os empiristas, o estenógrafo não perderá o ânimo, habituado a construir, e saberá superar a dificuldade. Os racionalistas, ao invés, habituam os alunos a uma certa facilidade e não os colocam nunca de frente com as dificuldades reais.
Replicam os racionalistas, dizendo que, se o hábito da construção dos sinais pode ser uma vantagem notável, as desvantagens que daí derivam são extraordinariamente mais sérias. De fato, sob a pressão dos ditados, o aluno se habitua a escrever como pode, cometendo erros teóricos freqüentemente muito graves, deformando os sinais, abreviando a seu modo, esquecendo abreviações, etc. Tudo isso constitui aberração, empirismo ruim, destituído de qualquer valor teórico e técnico: é como jogar ao mar alguém, esperando-se que, de alguma maneira, consiga aprender a nadar. Os maiores nomes do ensino estenográfico insistem, ao contrário, sobre a necessidade de cultivar a teoria e, portanto, de automatizar os sinais de forma correta. Quando o aluno tiver automatizado todos os estenogramas, as dificuldades desaparecerão, não haverá mais para ele aquelas "palavras novas", tão temidas pelos empiristas.

A QUESTÃO ORTOCALIGRÁFICA
"É preciso tomar cuidado com relação à tendência funesta que os alunos costumam ter de acelerar excessivamente os movimentos da mão, que levam à deformação dos sinais. A tarefa principal do professor consistirá em guiar os alunos, em obrigá-los a escrever caligraficamente, a exercitarem-se lentamente, a traçarem um sinal no papel só quando já houver uma imagem bem formada e bem nítida do sinal na mente." (Estoup, Gammes, VII ediz.)
"É preciso que os alunos tenham sob seus olhos um traçado absolutamente correto e que não fiquem expostos a contraírem hábitos ruins, exercitando-se em cima de traçados incorretos" (Estoup).
"Os hábitos ruins contraídos, que depois precisam ser extirpados, causam grandes prejuízos na precisão e na velocidade." (Prévost-Delaunay).

A QUESTÃO PEDAGÓGICA
Os procedimentos racionais, dizem os empiristas, com as contínuas repetições e cópias, cansam os alunos, enquanto que, com os antigos procedimentos, ditando trechos sempre novos e adequadamente escolhidos, os alunos se interessam mais e seguem melhor também os conceitos do que estão taquigrafando; esses trechos operam, em suma, numa atmosfera real do estenógrafo que se esforça por acompanhar o discurso, o que traz uma maior vantagem. São belas palavras, respondem os racionalistas, mas a vantagem da atmosfera real não compensa os danos que daí derivam (traçados errados, deformações, etc.). De outra parte, aqueles que ensinam racionalmente podem testemunhar que, longe de cansar, os métodos intensivos de repetição e os resultados que daí derivam entusiasmam literalmente os alunos. O aluno alegra-se com os resultados que consegue e compreende finalmente com quais conceitos ele deve proceder para chegar à meta. Competições de estenocaligrafia, de velocidade e de exatidão de trechos conhecidos, etc, podem completar o quadro do sucesso pedagógico dos procedimentos racionais.

A QUESTÃO PSICOLÓGICA
Os alunos, dizem os empiristas, acabam percebendo, em determinado momento, que os progressos feitos com os métodos racionais são ilusórios, pois, enquanto um certo trecho preparado é taquigrafado na velocidade de 70 palavras por minuto, um trecho inteiramente novo não é taquigrafado nem mesmo na velocidade de 40 palavras por minuto; e o aluno se desencoraja. Portanto, psicologicamente, dizem os empiristas, os métodos racionais devem ser rejeitados.
Rebatem os racionalistas: "O professor está aí para explicar e guiar. Ele expõe, desde o princípio, as bases dos procedimentos racionais. O aluno sabe que a sua velocidade não é real, mas sabe também que sempre vai encontrar, em novos trechos, palavras já automatizadas, que ele poderá taquigrafar sem dificuldade. Ele sabe que a automatização continuada vai-lhe aplainar o caminho na direção do sucesso final. O professor, é claro, não deve vender gato por lebre."

A QUESTÃO GRÁFICA
Os empiristas afirmam que os estenógrafos que usam sistemas de taquigrafia cursivos não têm necessidade de automatizar os sinais (Quitadamo), e que, talvez, esta necessidade é maior junto dos estenógrafos que usam os sistemas geométricos.
Mas eis o que escreve Giulietti sobre a Ciência Estenográfica (1930): "Não basta o fato de que a estenografia tenha a mesma base caligráfica da escritura comum, que algumas letras estenográficas reproduzam letras ordinárias, etc. O obstáculo não se encontra no sinal taquigráfico, mas na adaptação mental. Daqui derivam as deformações de dimensão, de espessura, de inclinação dos sinais traçados pelos principiantes, mesmo se os próprios sinais taquigráficos reproduzem letras do alfabeto comum; daqui dependem deformações freqüentemente difíceis de serem eliminadas e que em alguns se vão arraigando de tal maneira a ponto de constituir um defeito de origem mesmo na estenografia prática.
Como se vê, cursivismo ou geometrismo, a dificuldade está sempre no cérebro. Os métodos racionais não têm em mira formar uma habilitade meramente gráfica, mas chegam a ela gerando primeiramente a segurança mental, segurança que é igualmente necessária para aprender perfeitamente uma estenografia geométrica ou cursiva. O problema da mecânica gráfica se apresenta nas altas velocidades. Aqui, é o hábito contínuo da atenção que resolve o problema: aqui se demonstra como um sinal complicado, perfeitamente claro para a mente, é traçado de modo mais rápido do que um sinal simplicíssimo, mas que ficou inseguro no cérebro.

A QUESTÃO CULTURAL
Certos racionalistas começam a aplicar o método da repetição desde as primeiras lições teóricas - queixam-se os empiristas - e isto é contrário a um princípio cultural, pelo qual o aluno não deve habituar-se a considerar a estenografia como uma matéria a ser aprendida de memória, mas como uma matéria essencialmente formativa, para cujo aprendizado é necessário um esforço inteligente e o concurso de muitas outras noções, principalmente lingüísticas.
"Bem falado!", respondem os racionalistas, "Nós somos os primeiros a afirmar o valor cultural da estenografia, mas entendemos que tudo que é explicado teoricamente deve ser inteligentemente entendido e apreendido, mas também validamente fixado na memória. Se as regras teóricas não forem transformadas em estenogramas, não se alcançam resultados concretos.
"O estenógrafo deve dominar suficientemente o mecanismo da arte, de modo a poder voltar a sua inteira atenção ao discurso, sem ser perturbado pelos meios mecânicos" (Gabelsberger).

A QUESTÃO DOS DITADOS
Os empiristas são a favor dos ditados, os racionalistas, em geral, são contrários.
Dizem os empiristas que a falta de ditados não habitua o aluno na futura tarefa de estenógrafo e nisto, evidentemente, têm razão. O ditado, com as oportunas cautelas, digirido a evitar a automação dos sinais teoricamente errados, as deformações, deve ser introduzido, como já foi feito por muitos, nos procedimentos racionais; mas também os métodos de repetição e de cópias (como adotados pela escola Duployè) devem ser abundantemente aplicados.

OUTRAS VANTAGENS DOS PROCEDIMENTOS RACIONAIS
Com os ditados empíricos de trechos sempre novos, além de produzirem os danos que já mostramos, vêm inserir muito tempo entre estenogramas idênticos. Em outras palavras, se no ditado de hoje eu pronunciar a palavra "diferenciação" e se não repetir este trecho muitas vezes até produzir uma automatização de todos os estenogramas que compõem este trecho, quanto tempo passará até que se me apresente a ocasião de ditar novamente a palavra "diferenciação"? Se isso acontecer mesmo dentro de duas semanas, os alunos não terão mais na memória os traçados exatos do estenograma escrito hoje e deverão, então, realizar um esforço quase novo para traçá-lo. É pois provável que algumas palavras muito freqüentes venham a ser repetidas excessivamente, roubando tempo na automatização daquelas outras que não são encontradas com freqüência. Os procedimentos racionais, em vez disso, colocados diante do quadro completo da língua, com as palavras mais freqüentes, com aquelas correspondendo a estenogramas difíceis, a abreviações, etc, podem criar testes idôneos a exercitar o aluno com ordem, com graduação, ou seja: racionalmente.
As repetições dos trechos preparados até a automatização de todos os estenogramas relativos comportam uma outra grande vantagem: não conduzem só à automatização daqueles estenogramas, mas preparam o automatismo parcial de palavras estenograficamente parecidas. Por exemplo, se automatizo a palavra "verbo", terei preparado o caminho para a automatização das palavras "advérbio, verbal, verboso, verbalmente, etc."

O PENSAMENTO DE GABELSBERGER
Neste ponto, Gabelsberger pensa que o estenógrafo deve possuir um grande domínio, não só do sistema estenográfico que estudou, mas da estenografia em si, a ponto de, mesmo sob o impulso da velocidade, poder abreviar, modificar, juntar, omitir, mantendo-se, por isso, sempre submisso ao fio do discurso.

OS MÉTODOS RACIONAIS
O método racional por excelência é aquele de Estoup, chamado também de "gamme". Estoup, depois de haver estudado o mecanismo psicológico do ato de estenografar, chegou à conclusão de que, em última análise, tudo se reduz a uma "imagem motriz", traduzida em traços gráficos dos meios mecânicos. O autor expõe, em seguida, um conceito muito importante, ou seja, que "a velocidade estenográfica não depende da mão mas dos processos mentais". Enquanto tais processos se desenvolvem com esforço cerebral, não pode haver velocidade: quando um ato se efetua com fadiga só pode ser efetuado lentamente. Estoup não deixa de notar que "a mão" tem a sua importância apenas nas altas velocidades (v. também § 9).
Para reduzir ao mínimo o esforço, há o exercício, que, pelo hábito, conduz ao automatismo e, conseqüentemente, à velocidade. Estoup afirma que sem automatismo não existe estenografia em nenhum grau, que o automatismo é, portanto, a condição necessária do trabalho estenográfico. O automatismo nos libera da tarefa material inferior da escrita.
Estoup é, em parte, contrário aos ditados, pelos inconvenientes já visto, e ainda mais pela dificuldade de encontrar sempre à mão uma pessoa que dite, pelo hábito que adquirem os alunos de pular palavras difíceis, pela ilusão que formam sobre a própria velocidade, que não é efetiva porque é adquirida à custa das deformações e das "calcografias". Admite, porém, de quando em quando, os ditados, para habituar o aluno às condições reais do trabalho estenográfico, ditados que devem ser feito sempre de trechos já minuciosamente estudados, a fim de evitar todos os inconvenientes.
Ele, portanto, expõe as vantagens incomparáveis da repetição intensiva dos sinais para a conquista da velocidade. Para evitar o assombro, ele explica imediatamente que não se trata de automatizar de uma vez os 90.000 estenogramas da língua francesa! As pesquisas estatísticas mostram que as palavras comumente usadas por um orador, como aquelas do meio comercial, administrativo, jornalístico ou usuais, não passam de 3500. Inserindo tais palavras em testos adequadamente preparados e efetuando exercícios de repetição em cima de cada trecho até a automatização, poder-se-á, em tempo curto, conquistar uma velocidade útil: o aperfeiçoamento levará, então, a altas velocidades sobre trechos desconhecidos.
Seguindo tais princípios, Estoup apresenta quatro volumes de textos prreparados, que ele chama "gamme stenografiche". A denominação "gama" foi tirada do termo homônimo musical que indica a divisão da oitava. Antigamente, a terceira letra do alfabeto grego (gama) era usada para indicar a nota mais baixa na frente da escala diatônica. Daí o nome de gama aos sete sons. Hoje nós dizemos "escala musical" e os exercícios conexos chamam-se "escalas", sinônimo de "gamas". Seja, então, pelo fato de que gamas significam séries, seja porque significam "exercícios de repetição", Estoup adota o vocábulo e o aplica ao seu método. Todo trecho preparado é, assim, chamado de "gama". As gamas estenográficas são subdivididas em várias séries, cada série é relativa a uma determinada velocidade (50 palavras, 60, ...120, etc.).
Todo texto é tipográfico. O aluno deve, antes de mais nada, construir os estenogramas, isto é, traduzir com cuidado o texto tipográfico em caracteres estenográficos. Nisto Estoup está de acordo com os empiristas; mas ele estabelece como condição que a tradução deva ser levada a cabo sob a supervisão do professor, ou com a ajuda de um "gabarito", isto é, de um texto estenográfico correspondente. Assim, o aluno construirá sinais ortograficamente e caligraficamente perfeitos. Sucessivamente, começa o trabalho de repetição intensiva. O aluno deve ter sob os olhos o texto tipográfico, mas pode recorrer à tradução ou ao gabarito, caso encontre dificuldade.
O primeiro trecho da série de 50 deve ser repetido tantas vezes até que, sem deformações nem erros, se consiga a velocidade de 50 palavras por minuto. Passa-se, então, ao segundo trecho, sempre da série de 50, o qual, contendo muitas palavras já automatizadas no primeiro, exigirá um número de repetição menor, e assim por diante. Estoup calculou que são necessárias 30 repetições para automatizar o primeiro trecho de cada série, enquanto os últimos necessitam apenas de 7 ou 8 repetições.
Evidentemente, a velocidade alcançada com trechos preparados não é efetiva, pois, passando-se a um trecho desconhecido, a velocidade diminui. Esta diferença, no entanto, diminui rapidamente, na medida em que se avança nas gamas mais altas.
É evidente que acima das 100 palavras haja uma necessidade premente de ditados, mas estes devem ter lugar apenas quando o professor estiver certo de que o aluno haja fixado bem na mente as formas de todos os estenogramas das "gamas".
Aplicado ao ensino coletivo, o método das gamas comporta complicações, mas nitidamente inferiores àquelas dos métodos empíricos.
O método Pandolfi. É uma exageração do método Estoup. Encher a primeira linha da página do caderno de estenogramas e repeti-los nas linhas abaixo.
O método Cerchio. Este se distancia do de Estoup, porque não parte do texto tipográfico, mas diretamente do texto estenográfico, com as seguintes normas: leitura corrente do trecho estenográfico; cópia da primeira frase; repetição intensiva apenas das palavras difíceis; repetição inttensiva da frase inteira, tomando-se cuidado para que todas as palavras venham escritas com o mesmo desembaraço; execução de idêntico trabalho em todas as frases subseqüentes; repetição do trecho inteiro até a obtenção da velocidade prescrita.

A LEITURA
A leitura dos textos estenográficos não é apenas útil para aprender a ler, mas ainda mais para aprender a taquigrafar. A leitura obriga a um esforço que pode parecer, à primeira vista, contrário àquele esforço construtivo. Mas é, na verdade, sumamente construtivo, com a incomparável vantagem de uma ortografia segura. O Estoup põe como condição primeira que o trecho da gama, depois de ser traduzido e perfeitamente corrigido, seja lido muitas vezes antes de efetuar os exercícios de repetição. Gabelsberger põe a leitura, como de costume, sobre um plano elevado: "deve-se conseguir abarcar, com um só golpe de vista, a imagem gráfica da inteira série de pensamento, o que na verdade é tanto mais fácil quanto mais simples e compacta se apresenta a escrita".
No meu método de ensino, a leitura está sempre em primeiro lugar: esta estimula a memória visual, habitua o olho à exatidão do "percurso" e da forma, imprime na mente estenogramas perfeitos.

O MENTALISMO
Haillez, estenógrafo belga, escrevia em 1929: "A velocidade e a segurança no estenografar podem facilmente ser conseguidas mediante o exercício mental, desenvolvido concomitantemente com os exercícios práticos. A vantagem do exercício mental consiste sobretudo em não haver necessidade de uma pessoa que dite, nem de papel, nem de lápis". Este método auxiliar consiste em representar mentalmente os sinais estenográficos das coisas que se vêem, das palavras que escutam, daquilo que se pensa, daquilo que está sob os olhos quando seguramos um livro, um jornal, uma carta. Com o tempo, o mentalismo provoca uma série de associações entre os estenogramas e as coisas, estenogramas e palavras, etc, estes exercícios podem ser induzidos a ponto de "pensar" em caracteres estenográficos.

O AUTODITADO
Na falta de uma pessoa que dite, pode-se recorrer ao autoditado, estenografando trechos que se conhece de memória, poesias, canções ou trechos improvisados. Maior benefício poder-se-á extrair do autoditado se o discurso for pronunciado em alta voz, "stenologando", como diz o Molina ou "stenofonando", como diz o Cerchio.

AS ALTAS VELOCIDADES
Seria preferível que sobre este tema escrevessem os campeões: quem melhor do que eles pode indicar os problemas estenográficos relativos às velocidades superiores?
O Boni é de opinião de que nas altas velocidades os fatores gráficos têm papel essencial, mas Nataletti, Gregg e Galletti afirmam que se estenografa com o cérebro, não com as mãos. "A velocidade ocorre em função, mais do que da concisão dos sinais, do menor esforço cerebral que é necessário para traçá-los; o alongamento do traçado é muitas vezes óptico, não dinâmico". Mas com a Fonoestenografia italiana de Meschini - sistema geométrico de uma incrível brevidade no traçado - A Reggiani conseguiu a velocidade espetacular de 252 palavras por minuto. Não se sabe como andou a tradução, mas a velocidade conseguida demonstra que a brevidade do traçado influi (e como!) na velocidade. Nataletti estava convencido, por exemplo, na impossibilidade de criar um sisttema melhor do que o de Taylor, que ele achava legibilíssimo e velocíssimo.
O Cerchio, também admitindo que o trabalho intelectual terá sempre, na estenografia, o primeiro lugar, é contrário às abreviações cerebrais, pois acredita que uma operação mental exige mais tempo do que uma operação mecânica; mas conclui, enfim, afirmando que a conquista da velocidade é um triunfo do pensamento.
A questão das altas velocidades ainda não está clara, mas não se discute a necessidade cultural da estenografia. Se não houver cultura e a inteligência, a estenografia pode criá-las só em parte. Não é, portanto, dito que o aluno bem formado com métodos racionais possa tornar-se um "ótimo" estenógrafo prático, como não se poderá negar que um formidável embrulhão empírico, dotado de cultura e de cérebro, consiga fixar como se deve o discurso de um orador veloz.

VEJA TEXTO COMPLETO EM ITALIANO NO SITE: http://www.bitnick.it/Buccola%20News/15%20-%20velocit%C3%A0%20stenografica.htm

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VEJA "VARIEDADES II"!

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